8.5.07

Fernando Esteves Pinto




[...]

o rapaz tinha os braços estendidos sobre a mesa, as mãos estavam violentamente cerradas, como se pretendesse desfazer toda a sua ira na presença da rapariga.

- Não queres saber de mim – disse ele
- Cada vez mais, eu quero saber de ti.
- Então as tuas palavras mentem-me.
- Infelizmente, tudo o que eu te digo é também uma mentira para mim.
- Às vezes penso que a boa consciência de tudo o que nos acontece e sentimos é como um lençol sujo com o qual nos cobrimos.
- Desde que te conheço que não me sinto coberta por nada deste mundo.
- Eu sou a nudez da tua vida?
- Tu és o meu sofrimento.
- Tu não eras assim.

A rapariga não sentiu coragem para continuar o diálogo, levantou-se e foi para dentro do balcão, ouve-se a água a corre. O amor não pode ter um som que o identifique melhor do que este. Talvez sejam lágrimas.

[...]


Excerto de Conversas Terminais, Campo das Letras, Editores SA 2000
Colecção Campo de Estreia - 28

Imagem:Fernando Monreal

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