9.5.07

Joaquim Cardoso Dias



o vento para lá do reino das árvores sobre o peito
do rapaz onde caem um pouco os olhos a solidão
de sermos apenas passagem um velho amigo
enquanto digo os braços devagar o calor
que deixamos nas cadeiras o silêncio e o
teu rosto lento a fogueira que fazemos sobre
a neve um lugar do meu corpo apenas
essa chuva uma viagem aos olhos e o teu coração
de mulher partindo ao fim da tarde de
fazer poemas à porta do quintal de junho junho
o mês em que eu nasci e eu
ainda sou a criança que tem medo
da noite de fazer desenhos nas paredes do quarto
ficar só e olhar longe as estrelas da janela
a palavra morte sem princípio nem fim
tudo quieto é o sossego o sopro mais o silêncio e
as areias uma rosa a erva e o amor
isso. um inverno o equilíbrio das aves pela manhã
sobre o rio a neblina ou o meu nome
num tronco quieto de uma árvore de sesimbra
foi lá um dia a minha casa
os cavalos verdes como num sonho a praia o tempo
este poema de escrever hoje o frio e fazer
uma cama nas folhas o eco da casa a
palavra vento uma noite de tempestade
da minha infância todas as lágrimas de gritar
no escuro para as paredes do quarto
mãe tenho medo
mãe deixa-me ir para a tua cama mãe


O vento de O preço das casas, Gótica, Outubro 2002
imagem:Jan McFarlane

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