8.5.07

Momentos Meus




Lembro-me da janela florida e do reflexo do sol na vidraça. Lembro-me da sala, do vaso com uma flor e do tabuleiro de xadrez onde jogávamos, uma interminável partida. Lembro-me de tudo, só não me lembro de mim ou então, lembro-me muito ao longe, numa memória distante. Sei que estava sentada e contava sonhos. Trazia um vestido dependurado num corpo vazio, umas pernas que já não caminhavam ladeira nenhuma e uns olhos, cegos pelo reflexo do sol, que dia após dia, se escancarava na vidraça da janela.
Lembro-me de tudo, só não me lembro de mim ou então, lembro-me muito ao longe, numa memória distante.
Sei, que muitas vezes tive dúvidas, sobre as certezas das minhas decisões mas, lembro-me de pensar, que ganhei muito mais do que perdi e, que sem o saber, das minhas mãos saiu, sempre, ou quase sempre, o peão certo. Lembro-me de tudo, só não me lembro de mim ou então, lembro-me muito ao longe, numa memória distante. Mas, também não me lembro de ti. Nem ao longe, nem numa memória distante. Durante essa interminável partida, eu joguei sempre sozinha e, perdesse ou ganhasse, a inexistência da tua mão ou do teu abraço, era o meu único consolo; nunca estiveste presente, nem na tristeza, nem na alegria.
Por isso não me lembro de ti, foste sempre ausência.
Por isso não me lembro de mim, acabei por desaparecer-me na espera.


nadir

imagem:Bridget Hunt

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