14.9.07

Fernando Guimarães



Onde é que guardo o tempo? Posso agora dizer-vos
que é dentro dos olhos. Mesmo que se conservem assim límpidos
acabam por pousar neles algumas folhas. Procuro depois
que seja mais fácil este caminho onde se encontram os vestígios
dos meus passos, de qualquer encontro, de um gesto ainda
furtivo. Quantas sombras existem aí e me pertencem? Sei
que o repouso é menos que uma palavra. Talvez cheguem
as mesmas ondas que julgávamos estar há muito esquecidas,
a neblina parece ser um arco onde se reúne
o que ficou abandonado para sempre. É assim que começo a medir
o tempo. Alguns instantes reservo-os para a profundidade
da água; outros para o modo como as minhas mãos estremecem.



Alguns instantes retirado de Revista de Poesia – Limiar 5/95
imagem:Wendy Rouse
Mirror Lake II - 20 x 30 Inches - Oil on Canvas

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