12.9.07

Fiama Hasse Pais Brandão



Quarto Interior

Na cómoda algumas gavetas
com os caprichosos guinchos da madeira
não só entoavam sons como aspergiam
o ar de antiquíssima alfazema.
Moviam-se devagar para o regaço,
aceitavam escassamente a luz,
gemiam até estancarem
abertas e exalarem
por fim a plena
onda de aroma.



Madressilvas e Tílias

A uma janela assoma
a clara madressilva;
a outra, as leves, verdes
folhas da tília.

Disputam o meu olhar.
Numa hora lutam
com varas de penumbra.
Noutra, ferem-se em tudo
o que cintila. E no fulgor
nocturno entram nos quartos,
vencendo a negra luz
que avança para os meus olhos



A Romanzeira

Todos os diálogos acabam no silêncio,
mesmo o murmúrio entre dedos e folhas,
quando o avesso da mão roça
a grande Natureza manifesta na árvore.

Era uma romãzeira em flor e fruto,
segura do seu reverdecer, loquaz.
Aos piriquitos, na larga capoeira defronte,
respondia com o júbilo da mudez.

Mas ante mim, que a cantava e canto,
ela a deixa-se estar como está um surdo
junto de um cego trovador lírico,
até que ambas aceitemos o fim.



Imagens: Harry Boudchicha

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