7.5.08

António Ramos Rosa



Sempre a tentativa nunca vã….
O equilíbrio musical dos instrumentos,
a paciência do teu pulso suave e certo,
o teu rosto mais largo e a calma força
que sobe e que modelas palmo a palmo,
rio que ascende como um tronco em plena sala.
A tua casa habita entre o silêncio e o dia.
Entre a alma e luz o movimento é livre.

Acordar a leva chama veia a veia,
ergue-la do fundo e solta propaga-la
aos membros e ao ventre, até ao peito e às mãos
e que a cabeça ascenda, cordial corola plana.
Todo o corpo é uma onda, uma coluna flexível
Respiras lentamente. A terra inteira á viva.
e sentes o teu sangue harmonioso e livre
correr ligado à água, ao ar, ao fogo lúcido.

No interior centro cálido abre-se a flor da luz,
rigor suave e óleo, música de músculos, roda
lenta girando das ancas ao busto ondeado
e cada vez mais ampla a onda livre ondula
a todo o corpo uno, num respirar de vela.
Sobre a toalha de água, à luz de um sol real,
dança e respira, respira e dança a vida,
o seu corpo é um barco que o próprio mar modela.


De A Construção do Corpo, Lisboa, Portugália Editora, 1969
Imagem: Andrzej Malinowski

Sem comentários: