25.5.08

António Osório




Para o coelho a fatalidade grande na rifa é a do caçador e a dos cães dele, piores quanto mais pequenos.

Uma batida aos coelhos nas silvas dos valados, ao longo da ribeira, próximo do esconderijo do pinhal e dos caules macios dos bacelos e da vinha, com muitos cães açulados por gritos («Busca, busca aí!»), gritos serenos, rituais, põem a alma dos bichos, enfiados no fundo ultimo da sua toca, pequenina de pavor. O coração bate-lhes com quantas pulsações? Mais do que as de um aviador ao ser ejectado da cabine? Salvar-se-ão? Como é possível fabricar tanto sofrimento?

Cercar cidades e homens é uma ideia terrível, porque precisa de ser inflexível e desapiedada a todo o instante. Assim são também os homens quando têm o coelho cercado.


Coelho cercado de O Apanhador de Ervas e Outros Poemas em Prosa

Imagem: Jackie Morris

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