6.5.08

Momentos Meus

De mãos pousadas no regaço, ela permanecia a um passo da imobilidade total, era como se só assim, conseguisse respirar a aragem tépida da noite e, fazia-o com tanta avidez que eu quase podia ver, o ar inundar-lhe a pele. O peso das suas memórias ultrapassava o imaginário humano e ninguém conseguia entender a sua quietude e a sua necessidade, de seduzir aquele tempo que teimava em passar.
E ali estava eu, completamente fascinada, perscrutando aquele olhar cristalizado e tentando em vão perceber, em que lugar da noite se encontrava o seu coração ou, qual seria a tradução possível para o seu silêncio. Em vão, nada consegui e parti, sem entender aquela melancolia arrastada.
Lancei-lhe um último aceno tímido e, no mesmo instante em que virei as costas, pude ver-lhe finalmente um olhar, ainda que imperceptível, mergulhado no meu horizonte. Um olhar que apelava ao esquecimento:

- Esquece-te de mim!

Tapei o espelho e nunca mais me olhei.


nadir

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