Pede o desejo, Dama, que vos veja
Não entendo o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado,
Que que o tem não sabe o que deseja.
Não há cousa a qual natural seja
Que não queira perpétuo seu estado;
Não quer logo o desejo o desejado,
Porque não falte nunca onde sobeja.
Mas este puro afecto em mim se dana;
Que, como a grave pedra tempor arte
O centro desejar a natureza,
Assim o pensamento (pela parte
Que vai tomar de mim, terrestre [e] humana)
Foi, Senhora, pedir esta baixeza.
de Sonetos de Luís de Camões
Imagem: Charles August Mengin
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