7.5.08

Rui Pires Cabral



Nesta vida – é um facto – estamos sempre
a desaprender coisas novas. O mundo
vai guardando a luz nas suas bainhas negras
e temos a melindrosa companhia dos fantasmas
que nos procuram: eles governam rudemente
os nossos pequenos reinos há sempre um ceptro novo

para cada coroação. de repente, com a volta
das estações, damos por nós muito mais velhos
nas fotografias. As razões que nos assistiam
empalidecem em paisagens cruelmente coagidas
pela luz. Fomos expulsos dos grandes palácios

da alegria? Onde estão os mapas que nos guiavam
lá dentro, exactos como o instinto? Não sabemos
responder: o caminho turva-se: são as incertezas
da maturidade. As palavras não nos iluminam
e o amor está condenado aos defeitos naturais
do coração, que ainda há-de voltar a arder

sem defesa nem socorro uma vez mais.



Fotografias de Praças e Quintas, Lisboa, Averno 2003
Imagem: Emrah Icten

Sem comentários: