28.2.09

Maria Azenha



navegar o silêncio a memória
navegar as estrelas o odor do espaço
o seu sangue coagulado em planícies de vento
por jardins alinhados de poeira e ar
navegar os destroços
as palavras e os barcos
navegar por sinais intemporais
ou por silêncios se espectros
terraços
templos imersos
em conversas de aéreos vitrais

navegar os astros em cânticos desertos
em grandes transtlânticos do espaço
entrevistando luzes terrestres
navegar alucinadamente

vocábulos e tendões
por inúmeros portais invisíveis
electrões

navegar na cápsula do tempo muito lentamente
galáxias ritmos e ritos
navegar o vento
navegar inesperadamente
a astrofísica da vida
navegar secretamente contra o escuro
contra a luz apodrecida
uma esfera de silêncio

navegar contra os átomos ausentes


Alexandra Kräft (heterónimo de Maria Azenha), Navegação de Concerto para o fim do Futuro, Ed. Hugin, 1999
Imagem:Zilvinas Valeika

2 comentários:

VFS disse...

o corpo é uma nave no tempo.
um beijo celeste

... na nudez do nós.

Nadir disse...

muito lindo!

venha sempre VFS.

margarida