4.6.09

Fernando Guimarães



A mão tocou no rosto: fê-lo para que assim pudessem os olhos
ver finalmente como é todo o espaço que existe
a partir dela. Depois, foi o rosto que tocou nas mãos
para estas saberem o que as limita. Faltava ainda
um nome, apenas o ruído límpido de uma voz
cuja origem se desconhece, a sua tranquila surpresa.
Pronunciá-lo-emos finalmente. Não é o princípio de tudo?
Tu podes esquecê-lo, porque nas tuas vestes a noite desce e hás-de esconder
no próprio sono esse corpo que chegava da luz, apenas vestido
pelo que parece ser o nosso sangue. Espera um pouco. A quem
podes levar agora o primeiro alimento, aquele que recebeu a forma
de uma folha? O que vês? Tudo se torna simples
ao esperares a palavra que não pertence a ninguém porque continuas
sozinho. Talvez ela seja uma promessa ou o que ficou
do que para os outros era uma despedida. Vês um caminho: estendes
para o chão um dos braços para te aproximares mais do seu calor,
dessa luz espalhada agora à tua volta. Compreendeste melhor
o sentido de cada gesto que fazes, a maneira de tocar
numa coisa só para que fique idêntica a si mesma. Será
isto suficiente? Procura dentro de ti o que falta para assim receberes
o que podia ser uma primeira dádiva. Outras raízes
finalmente nascem.


Nascimento de Limites para uma árvore, Edições Afrontamento, 2000
Imagem: Jose Roosevelt
Poesia retirada do blogue A Dispersa Palavra

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