27.5.08

Gil de Carvalho




É que madruga
O realejo
Nos passeios – ganha
Em altura,
A roda. Insolente,
Trepa
Da rua às casas,
Ainda quentes,
Enquanto lá em baixo
Deus corta o fio que
Libertando a trama
Enche de fumo
O espelho junto à cama. E já

Explode a tua vida,
Ao bater brusca
No catavento em chamas.
Cortante, no frio da manhã,
A ventania junta
Em redor do galo
A plumagem, taciturna,
Que levanta no alto
Daquela cidade,
Os telhados,
Inclinados sempre
- quando se ama.

A roda cantarola, vai
E vem nas horas
Que passam, aguçadas,
Já não vem ninguém?


Novas
de De Fevereiro a Fevereiro, Centelha, Lisboa, 1987
Imagem: TheFleX

Sem comentários: