23.6.09

Pedro Esteves



Foi tudo tão rápido
brusco, violento
o texto que trazia
era meu e só meu
e numa resma de tempo
despi a capa, véu de água
dos ombros
deixei a ponta
de fora
confesso

Uma lambidela
de vento humano
bastou
a nudez
cura
arrepiou

nem olhei
para ninguém

Os meus olhos encolheram-se
os lábios trémulos
lutavam, morderam-se
E … esconderam-se nas mãos
desengonçadas
desajeitadas
embaraçadas

A minha alma
a minha revolta
as minhas entranhas
ali … expostas

preciso de me redimir
mostrando
a beleza que me agarra
à vida como a uma árvore
antiquíssima
sábia

Sou aquilo que fizeram ser
farol da minha
indispensável solidão
vela
que não se apaga
aos vendavais

Poeta frustrado
actor frustrado
cantor frustrado

sou pé de flor frágil
inocente e dócil
nessa leveza
bravo guerreiro
na batalha da dor
carrego esta missão
estranha de me manter
por aqui
em rebanho

Procuro
abraçar
a alma que não tem braços
e beijar quem já morreu

Sou o Pedro
de nome simples
pronto para amar e …
partir
neste desnacer


Alma despida, poema retirado de Nas Margens da SolidãoAntologia de Prosa e Poesia, Padrões Culturais Editora
Imagem: Pnina Evental

Sem comentários: