13.8.09

Eduardo Bettencourt Pinto




O pincel solar traça um declive na pele da água, a infindável utopia. Olha as nuvens e escreve, sentado no pátio. O cheiro das velas enrola-se-lhe nos dedos, sinuoso como uma cascavel. Do pequeno rádio sobre a cadeira brune uma nostalgia de Rossini. Atravessa as rosas. Um rumor emerge entre as cinzas das emoções. Pára, braço no ar. No seu movimento, suspenso, há uma guitarra que insiste, a euforia dos campos brancos, os despidos galhos do lume. Ele quer trazer da infância as primeiras palavras, as que vêm dos rios do sul. Mas em si há um homem deitado numa rede, e o cão velho da melancolia a lamber-lhe os dedos.



De Tango Nos Pátios do Sul, Colecção Campo da Poesia/31, ed. Campo das Letras
Imagem: Janusz Taras

2 comentários:

Graça Pereira disse...

Nostálgico,mas lindo,lindo! Voltarei mais vezes. Um bj Graça

Nadir disse...

obg Graça, volte sempre que quiser é um prazer para mim.

bj

margarida