29.12.09

João Luís Barreto Guimarães



apetece por vezes com os dias morrer por um pequeno
instante e deixar os fogos soltos na areia. acrescentar
água à face e perturbar os sentidos em busca da única
luz ou então sentar os movimentos e escrever a uma

amiga. dizer assim como quem fala: que espécie rara
de deus é o teu? a vida é ficar abraçado às dunas
apenas se há dois braços de areia por quem sonhar.

vir então aos poucos contando os mastros do verão
cumprindo o desejo das cartas de mar e assim mesmo
confundir todos os relógios da rota apenas para ter

mais tempo para ficar. o resto é saber o alfabeto de
cor até ao fim para que as palavras vão nascendo
devagar até ser sonho no sono dos dias ou ser sono
dentro de mim


15 de Há Violinos na Tribo, ‘3’, Porto edição do Autor, 1989
Imagem: Patrizio de Renzo