23.4.12

Fernando Luís Sampaio



Há uma fotografia em que estás
triste, o dourado dos aros desmaiado,
é em Madrid, suponho que no inverno.

Parece erguer-se a mão
no paraíso das lembranças, chama
corno ao destino, faz trapaças,
não se pode viver ficar parado
entre o vazio e muros
despedaçados por recusas.

E é cruel, a meio das avenidas,
transito a mais, deixa escapar
num gesto o peso do coração,
suas alcateias e segredos.

Como deixar ao destino
doutros no rosto marcado de
mau amor ou, nem sequer isso,
apenas desencontros da língua em
que não se entendiam?

Na fotografia, ainda triste, o lenço
de uma brancura galopante
começa a desaparecer.


Um verão quente de Escadas de Incêndio, Quetzal Editores, 2000
Imagem: Patrizio Di Renzo

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