18.4.12

João Rasteiro




Para que alguns queixumes
sejam imaculados na intimidade da boca,
permanece entre os alucinados.
Eles são os justos,
os que como as aves marinhas
pousam sobre as águas a carga da palavra,
o repouso difícil de nomear
pois dele se extrai toda alegria do pranto.
Regiões de um dúbio preciso: a poesia
ondulando transversalmente
a uma nebulosa de sangue e mel,
exposta sempre à ímpar utopia do mundo.
Para que alguma coisa
agrida o corpo onde cintilam os reflexos
e me retorne fragmento sem rasto ou cheiro.
O imaculado clarão
na circulação do sangue
dos que partiram antes da chegada.


Poema de João Rasteiro
Imagem: Alexander Kharlamov

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