16.6.09

João Rui de Sousa



Quando as janelas fossem como espadas
que o medo e a tortura fustigassem;

quando as telhas ferissem, não as leiras
de terra semeada, mas o troar da morte;

quando o calcário transformasse a fome
num lírio de perpetuo alimento:

quando o cimento fosse uma toalha
que esporeasse a dor e o odioso pó
da intolerância:

quando as portas se abrissem, não aos
lugares medonhos e cruéis, mas às aves
da generosidade

- talvez possível fosse a construção
de pontes para a luz e a imensidão do mar,
talvez possível fosse outra cidade.



Outra cidade em Nas Margens da SolidãoAntologia de Prosa e Poesia, com introdução do Prof. Dr. Daniel Sampaio, Padrões Culturais Editora 2008
Imagem: Ben Goossens

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