Da carta que não chegou às tuas mãos, ficou um passado memorável. Nela constavam os pequenos episódios que vivemos juntos. Rasguei-a junto ao rio, fiquei a olhar os pedaços de papel serem absorvidos pelas águas turvas. A tentativa de apagar finalmente o nosso passado. Dirias que não havia necessidade, dirias que o que vivêramos não valia assim tanto, nem mesmo três folhas escritas com o coração nas mãos, a arder. Eu sorriria diante de ti como alguém que morresse. Despiria as roupas e laçar-me-ia na corrente fria. Tentaria recuperar o que conseguisse, pedaço a pedaço, até afogar-me de vez. Só existem duas razões para mexer numa ferida. Curá.la, ou abri-la ainda mais.
(Memória) de Primeira Antologia de Micro-Ficção Portuguesa, Exudus
Imagem: Rossy Topalova
(Memória) de Primeira Antologia de Micro-Ficção Portuguesa, Exudus
Imagem: Rossy Topalova
2 comentários:
É, m.m., para mim também só há um tipo de amor: é quando se gosta mesmo!
Aquelas variantes "do gosta à sua maneira", só servem a quem não gosta de facto.
Vou tentar recuperar o que conseguir, pedaço a pedaço...
Abraço mergulhado,
blue
assino por baixo bluínha, como sempre.
abraço grande
m.m.
Enviar um comentário