Ah!os natais de infância
que não tenho em memória,
mas em nostalgia
- através das memórias dos
outros, das suas melodias: os
natais da minha infância.
Natais de infância - mas que neve?
Também eu sonho (e quem o não?)
um natal branco.
Queria neve no meu
natal de nostalgia. Queria
Fechar os olhos
E ver por dentro neve. Queria-
-me em país nórdico, ao menos
na nostalgia possível.
Mas o salto nos símbolos
de que é feita a vida:
uma falha de salto por degrau
ausente.
Ah! Um natal inocente de ternura
e figos, amigos e a mesa em
nostalgia, como as cores
do presépio.
Um natal inocente e
de perdão.
- [transler: a maldição de ser
assim: sempre presente
a outra culpa: direito a nostalgia
de natal: (a morte, a fome,
o frio): um privilégio]
Também não ter natal
nem em memoria. Só uma nostalgia
de doer.
Até a nostalgia
finalmente
começando a ceder:
nem país nórdico, nem a neve por dentro,
nem alegria a sério
na memória.
Como receita,
adicionada a culpa dos direitos,
associada a lucidez da
trans-leitura.
Hoje, na noite de Natal
…
ah! Os natais de infância
que nem em nostalgia
me cegam de ternura
Lisboa, 1956
retirado de Natal...Natais "Oito séculos de Poesia sobre o Natal - Antologia de Vasco da Graça Moura
Imagem: David E. LeVine
4 comentários:
Este blogue cada vez está mais interessante, mais bonito, mais bem preenchido. É bom voltar. Bom Natal(seja o que isso for)
Sentimos todos falta da tua poesia, Margarida. Venha ela, venha mais, mais amiúde!
kim, mais vale tarde que nunca. Por onde andas? O teu combóio nunca mais saiu do apeadeiro ou, nunca mais chegou...(?)
João, contigo já falei mas, de qualquer forma, agradeço de coração a tua visita e o teu interesse neste cantinho.
Abraço amigo para ti
margarida
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